Com diversos conjuntos arquitetônicos, a Chapada Diamantina é famosa pela diversidade de suas construções. Caminhar pelas ruas de pedras contemplando os casarios, as praças e as igrejas, nos leva aos séculos passados, quando a região fez história com os ciclos do ouro e diamante.
Selecionamos alguns destaques deste vasto e incrível acervo. Confira!
Primeira cidade planejada do país, apresenta praças e ruas amplas, igrejas barrocas, com edifícios da segunda metade do século XVIII e início do XIX. É uma das raras “cidades novas” coloniais, criada por Provisão Real, de 1745, que recomendava traçado regular e arquitetura capaz de garantir seu embelezamento.
Prédio do Fórum na Praça da Matriz, em Rio de Contas/BA. Foto: Branco Pires
Igreja de Santana, em Rio de Contas/BA. Foto: Branco Pires
Seu acervo arquitetônico é constituído por edifícios da segunda metade do século passado, construídos com diferentes técnicas, predominando o adobe, com destaque para as cores vivas.
Casas da Rua das Pedras
“Construções sem recuo, estreitas, do tipo porta-janela conjugadas, com sótão, sendo a maioria originária de meados do século XIX. Nos tempos áureos do garimpo, abrigavam cabarés. Atualmente, têm função de centro comercial, com restaurantes, lojas de artesanato e bares”, comenta o historiador Delmar de Araújo.
Rua das Pedras, em Lençóis/BA. Foto: Thais de Albuquerque
IPHAN
“Abrigou, por muito tempo, a Casa de Câmara, no térreo, a Cadeia pública, no subsolo, e, posteriormente, a Prefeitura da cidade. A arquitetura dessa edificação faz com que seja um belo exemplar do estilo eclético”, afirma a arquiteta e urbanista Liziane Peres Mangili, especializada em preservação e restauração do patrimônio histórico. Segundo o historiador Delmar de Araújo, o modelo dos leões foi uma inspiração do coronel César Sá, um de seus moradores, que, em viagem à Europa, inspirou-se na arquitetura do Palácio de Alhambra, situado em Granada, na Espanha.
Sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em Lençóis/BA. Foto: Branco Pires
UEFS
“Em estilo neogótico, o sobrado está situado na esquina da Praça Horácio de Matos. Como reação ao neoclássico, o estilo se difundiu e, no final do século XIX, teve grande aceitação, principalmente nas cidades de Lençóis e Andaraí”, explica o historiador.
Campus Avançado da UEFS, em Lençóis/BA. Foto: Edvan Barbosa/ASCOM UEFS
Antigo Vice-Consulado Francês
“Com decoração neogótica, o prédio funcionava como ponto para o comércio de diamantes do Sindicato Francês, atividade que o fez ser reconhecido como Vice-Consulado daquele país durante o auge desse minério. Atualmente, funciona como casa residencial no andar superior e comércio na parte de baixo”, descreve o historiador Delmar.
Antigo Vice-Consulado Francês, em Lençóis/BA. Foto: Branco Pires
Mercado Cultural
“Erguido do final do século XIX a 1940, o atual Mercado Cultural de Lençóis já foi espaço da feira livre, do primeiro cinema da cidade, da locação do filme ‘Diamante Bruto’ (de Orlando Senna), de bailes e até da primeira TV da cidade, em torno da qual as pessoas se reuniam para ver o telejornal, as novelas e os jogos da Copa do Mundo. Sua fachada voltada para o rio Lençóis, com as pedras aparentes, possibilitou uma perfeita integração com o cenário natural, dando um aspecto paisagístico peculiar à cidade”, explica Liziane.
Mercado Cultural, em Lençóis/BA. Foto: Açony Santos | www.acony.com.br
A Ponte
“Três arcos plenos, também conhecidos como arcos romanos, formam essa ponte, de aspecto forte e maciço. Originalmente, ela tinha revestimento de reboco, que foi removido durante a obra do Programa Monumenta, no ano 2000, com o intuito de deixá-la mais integrada ao leito do rio. Alguns escritores contam que a argamassa foi composta por clara de ovos e azeite de mamona”, descreve Liziane.
Ponte, em Lençóis/BA. Foto: Jeilson Barreto Andrade | www.flickr.com/jeilsonandrade
A vila, que atualmente possui em torno de 500 habitantes, já foi uma das principais áreas garimpeiras da região. Além dos casarios e igrejas históricas, ainda possui as famosas ruínas de pedra, um dos resquícios da época do garimpo.
Casas em Igatu – Andaraí/BA. Foto: Açony Santos | www.acony.com.br
“Por usarem pedras irregulares, de diversos tamanhos e formatos, os garimpeiros construíam a maioria das paredes das casas e os muros como um sanduíche: por fora, colocavam as pedras maiores, e por dentro, como uma espécie de recheio, pedras menores, como o cascalho. Muitos muros e paredes eram feitos com junta seca, usando-se pequenas lascas de pedra incrustadas. As argamassas de assentamento ou de revestimento (reboco) eram feitas com barro e cinzas, para dar a liga, cobertas com palha ou telhas. Por usar materiais locais e reaproveitados de outra atividade, essas habitações podem ser consideradas extremamente sustentáveis”, destaca Liziane.
Igreja São Sebastião, em Igatu – Andaraí/BA. Foto: Açony Santos | www.acony.com.br
Ruínas de Igatu – Andaraí/BA. Foto: Açony Santos | www.acony.com.br
Nesta linda cidade, foram descobertos os primeiros diamantes da Chapada Diamantina, em 1844. Uma de suas atrações mais interessantes é o único cemitério de estilo bizantino do Brasil, que chama a atenção de quem chega à cidade. Casarios e praças floridas embelezam a cidade que também é tombada como patrimônio nacional pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e foi construída nas margens da Serra do Sincorá.
Detalhes de Mucugê/BA. Foto: Caiã Pires
Cemitério Bizantino
Construído de 1854 a 1886, o cemitério de Santa Izabel está na encosta rochosa da Serra do Sincorá. A escolha do lugar foi resultado da presença de uma epidemia de cólera, que levou a igreja a proibir os enterros no templo religioso. O arranjo paisagístico integra os mausoléus, que lembra as “locas” ou “tocas”, antigas habitações dos garimpeiros.
Cemitério Bizantino, em Mucugê/BA. Foto: Caiã Pires
Praça Central, em Mucugê/BA. Foto: Branco Pires
Igreja Santa Izabel, em Mucugê/BA. Foto: Branco Pires
Mais informações estão disponíveis no Arquivo Noronha Santos, do IPHAN.
Foto do Destaque: Branco Pires